A Mulher e a Música em perspectivas

 

Desde as poesias cantadas pela poetisa Sapho de Lesbos, na Grécia Antiga, às canções atuais da MPB, a música foi um dos instrumentos utilizados pela mulher para percorrer um caminho de proibições, preconceitos e perspectivas.

Assim como na literatura houve um tempo em que poetisas e escritoras viam-se obrigadas a usar pseudônimos, para exibição de suas obras. Em qualquer atividade intelectual, a mulher era vista como a transgressora, que extrapolava seu papel na sociedade.

Mesmo as que ousaram ultrapassar o limite de 4 paredes tiveram suas artes assinadas com nomes masculinos ou uma titulação, como a britânica Jane Austin, autora de Orgulho e Preconceito, assinado como “Uma senhora”.

Chiquinha Gonzaga foi a precursora do movimento feminino na música brasileira. Mulher de vanguarda, enfrentou o preconceito desde jovem, quando foi rejeitada pela família paterna. Ela é autora de Ó Abre Alas, marchinha cantada até hoje nos bailes de carnaval.

Chiquinha foi também a primeira maestrina a reger uma orquestra sinfônica, no Brasil de 1899. Sua postura abriu alas para a mudança de cenário na música brasileira, encorajando muitas mulheres que sofriam discriminação a revelarem-se como compositoras, musicistas e cantoras.

Nos anos 70, aconteceram os chamados Festivais de Música Popular Brasileira. Deles, surgiu uma grande revelação feminina – Elis Regina. Elis fundou a ASSIM – Associação Cultural dos Músicos e se definia como simples intérprete das composições. Para ela, a canção era um legado à posteridade. Músicas como Atrás da porta, Maria, Maria e Essa Mulher foram algumas neste estilo de expor a submissão feminina imposta pela sociedade da época.

No mesmo período, entre as grandes representantes da música brasileira, surgiu Rita Lee. A cantora ostenta uma carreira de 55 anos e o título de rainha do rock, no Brasil. Rita Lee compôs o maior número de músicas em homenagem às mulheres. Dentre elas, Todas as Mulheres do Mundo e Cor de Rosa Choque, sucessos, pela temática irreverente, mostrando que o lugar da mulher era onde ela quisesse estar, inclusive na música.

Ao longo do tempo, as mulheres comemoraram muitas conquistas. Poetisas, musicistas, cantoras, compositoras, todas subscrevem seus próprios nomes nas obras que compõem, inclusive, para intérpretes masculinos.

Entretanto, apesar da herança cultural deixada por elas, a mulher atual ainda não conseguiu ocupar todos os podiuns. Apesar de nenhum espaço lhe ser mais proibido, sua presença ainda gera algum preconceito, em determinadas áreas.

 

Ainda hoje, a música é um dos canais mais utilizados para causar reflexões sobre a posição da mulher no trabalho, na família, na vida social. Algumas letras revelam sentimentos de libertação aos estereótipos associados às mulheres. A canção Triste, Louca ou Má, da banda brasileira Francisco, el Hombre retrata os estigmas a que muitas mulheres estão sujeitas, pelos outros e algumas até por si mesmas.

Triste, louca ou má
Será qualificada ela
Quem recusar
Seguir receita tal
A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina
[...]
Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define 
Você é seu próprio lar.

Se procurarmos em nossa memória, descobriremos a trilha sonora de cada período da nossa vida e a perspectiva que tivemos, embalada por cada música ouvida.

Raquel Fonseca

1º/03/2021

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